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18 de março de 2012

Sobre anjos caídos


A inspiração é um anjo impulsivo e danado que vem nos cutucar durante uma madrugada, quando quase estamos a dormir, ou então nos incita em uma cafeteria deserta, ou ao caminharmos sozinhos logo pela manhã. A inspiração é um anjo moleque que perambula pelas ruas a procurar os mais distraídos para assombrar. E é sádica, pois ousa surgir quando não há papel ou caneta em mãos.
A inspiração é um anjo esperto e sarrista, que adora uma farra, e que faz com que nos entreguemos de todo amor a uma mensagem escrita de batom em um guardanapo barato de lanchonete, ou a um texto no antebraço que mais faz-se parecer com uma tatuagem, dessas modernas, ou até mesmo a um rascunho salvo em uma das pastas de arquivos do celular — o que faz sentirmo-nos tão pateticamente pecadores contra a poesia que nos é dada.
A inspiração é um anjo criança, bagunceiro e calculista, fingido e turrão. Só aparece quando quer, sem ser convidado, fazendo confusão e rindo de suas vítimas tolas, perdidas e, principalmente, insones.
Bianca Landi

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