É importante que não se perca o olho para a surpresa,
nem que para isso seja preciso mudar.
Mudar o caminho, o objetivo, a rota, quem sabe apenas mudar
de calçada, de rua, ou arriscar mudar a cidade…
É importante que não se perca o friozinho na barriga,
nem que para isso seja preciso correr mais riscos, espiar mais de
perto o perigo, chegar-se ao desconhecido, fazer-se para o improvável,
um escancarado abrigo…
É preciso que não se perca a criança de dentro,
nem que para isso seja preciso encarar irresponsabilidades, pequenas
ou grandes molecagens, porções de safadezas regadas à milanesa,
mais um bom tanto de vadiagem para que o ócio perceba-se de o
quanto ele é bem-vindo…
É importante que não se perca de vista a fantasia,
nem que para isso seja preciso largar mão de tanta seriedade,
reeditar o sonho, não se intimidar com a aventura de aceitar diferenças
e diferente formas de viver…
É preciso que não se perca o aviso de que a vida é breve,
nem que para isso seja preciso acordar mais cedo, dormir mais tarde,
usar mais as horas sem tentarem vão economizá-las…
É importante lembrar que nada é realmente importante à ponto de
roubar-nos a incoerência, a permissão, a ciranda e a alegria,
e que, além de breve, a vida é simples como um sussurro que diz:
‘dessa vida nada se leva a não ser a vida que a gente leva’.
Be Lins
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