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19 de dezembro de 2010

Na ilha por vezes habitada

Na ilha por vezes habitada do que somos, 
há noites, manhãs e madrugadas 
em que não precisamos de morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra 
e apertamo-la nas mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: 
 o contorno, a vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece 
e viajou à roda do mundo infatigável, 
porque mordeu a alma até aos ossos dela.
Libertemos devagar a terra 
onde acontecem milagres como a água, 
a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.

José Saramago
 

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